O Charla Podcast #415 teve como convidado Pedro Martins, ex-diretor de Futebol do Vasco e Cruzeiro.
Fonte: Youtube Charla Podcast
Ex-gestor do Vasco, Pedro Martins declara que troca de liderança da SAF impactou desempenho de Álvaro Pacheco
Dez dias após sair do Vasco, Pedro Martins analisou sua passagem pelo clube em entrevista ao “Charla Podcast”. O ex-diretor executivo enfatizou que a mudança na liderança da SAF, com a saída da 777 Partners por ordem judicial, gerou instabilidade no ambiente futebolístico e afetou a performance do treinador Álvaro Pacheco, que foi demitido após quatro jogos.
– No momento em que a negociação avança, ocorre a ação judicial que retira a 777 do controle e assume o clube associativo. Ele me questiona: “Devo seguir em frente ou não?”. Essa decisão causou instabilidade no ambiente interno, o que é natural. Pedro fez um esforço para acalmar os ânimos. Porém, achar que isso não impactou no trabalho de Álvaro é ingênuo. Ele foi afetado pela incerteza e pela adaptação ao futebol brasileiro. Estreou sofrendo uma goleada do Flamengo. Enfrentou um período de mudança de proprietário e os dois primeiros jogos foram contra Flamengo e Palmeiras. Essa transição de dono através da justiça é atípica – afirmou Pedro.
– Minha percepção era de que devíamos ter dado mais tempo para que a estabilidade da estrutura o beneficiasse. Isso geraria resultado? Não sabemos. Ninguém esperava sofrer 6 gols do Flamengo. A saída de Álvaro teve consequências, porém minha saída não se resumiu a isso. Falei: “Discordo da saída de Álvaro, mas minha permanência não seria mais viável”. Gastaríamos energia de forma equivocada. Compreendendo a necessidade de o clube ter tranquilidade, permaneci por mais 15 dias para passar as funções e finalizar algumas negociações. Foi um processo tranquilo porque considero que o Vasco precisa de serenidade para alcançar resultados – acrescentou o dirigente.
Pedro Martins também abordou a negociação com Philippe Coutinho, que teve início de maneira concomitante, com diálogos entre a 777 e o presidente Pedrinho. O dirigente ainda mencionou a relação com Payet, jogador que ele considera muito especial.
– Com a chegada de Pedrinho, unimos forças. Havia duas conversas em curso, ainda muito informais. Devido ao relacionamento de Pedrinho com a família do atleta, permitiu avanços. Era um interesse do Vasco, independente de tendências, e do Coutinho. Se a decisão fosse puramente financeira, não seria pelo Vasco. Ele desejava retornar ao clube, fazia sentido em sua trajetória profissional – destacou Pedro Martins, complementando:
– Payet tem uma capacidade de compreender o contexto que foge à média dos atletas. Ele encara com tranquilidade os rumos do clube, as decisões que estão sendo tomadas. É outro exemplo de jogador que deseja vestir a camisa do Vasco. Poderia ter optado por outra agremiação, porém sua sede de competir o leva a acreditar que o futebol brasileiro pode proporcionar isso. Ele enfrentou um período tumultuado. Agora, tende a resgatar seu potencial no futebol. Ele está acima da média. Não considero que atrasos salariais (direitos de imagem) tenham prejudicado. Em momento algum isso foi o foco principal ou afetou seu desempenho. Eu tinha muitas conversas com seu empresário em busca de soluções, e acredito que Pedrinho conseguiu isso.
Pedro Martins teve sua estadia no Vasco como a mais breve em um clube. O diretor de futebol permaneceu menos de dois meses no cargo. Anunciado em 1º de maio, sua primeira missão foi buscar um novo treinador após a saída de Ramón Díaz. Após duas semanas, o dirigente e o ex-CEO Lúcio Barbosa contrataram o português Álvaro Pacheco.
Leia mais da entrevista de Pedro Martins ao “Charla Podcast”:
Conversa com a 777 Partners
– Dialogamos com Lúcio, Nicolas e Johannes. Eles me informaram sobre os aprendizados desde a chegada ao Vasco: “Cumprimos uma etapa, que foi a permanência no primeiro ano, agora precisamos tomar decisões alinhadas com o futuro”. Tinham a intenção de reequilibrar o elenco com a chegada de novos talentos, investir na base, estruturar as categorias de formação para desenvolver mais atletas, reajustar a folha salarial, pois consideravam que o dinheiro estava mal distribuído. Fiquei certo de que era coerente avançar para essa próxima etapa e que se aproximava o fim de um ciclo no Cruzeiro.
– Eles pediram auxílio para operacionalizar o departamento de futebol. As conversas com a 777 foram todas pensadas visando o futuro do Vasco. Contribuir para a organização do time principal e formar um clube capaz de vender jogadores para mercados de elite.
Busca por um novo treinador como prioridade
– Quando cheguei, fui surpreendido pela situação de Ramón Díaz. Tive que compreender o ambiente, as pessoas, dediquei muito tempo para conversar com todos e identificar o perfil de treinador. Fui informado de que ele havia pedido demissão no vestiário e desconheço o motivo do arrependimento posterior que justificou as declarações. Assumi com Rafael Paiva como interino. Em contato diário com a 777, definindo perfil e orçamento, eles desejavam um time mais aguerrido, que proporcionasse um jogo vertical. Nesse contexto, listamos os principais treinadores e consultamos de forma informal para chegar a uma lista reduzida. Os disponíveis e interessados eram majoritariamente os treinadores emergentes. Após análises, chegamos ao nome de Álvaro Pacheco. Emergente, porém com destaque na temporada do Vitória de Guimarães.
Instabilidade financeira do clube
– Vi por parte de Pedrinho um grande esforço para encontrar viabilidade financeira, como preparação para futuras vendas. Notei sua intenção de se envolver mais com o futebol, porém estava dedicando muito tempo para viabilizar economicamente o clube. Os salários estavam em dia, porém luvas, comissões, contratações… Eles buscavam soluções. De fato, a estrutura estava montada considerando o aporte da 777. Pedrinho estava formulando saídas para equilibrar as finanças. Já havia um aumento na folha salarial, em algum momento será necessário um equilíbrio, seja com novas receitas ou saídas de jogadores.
Por que não estava presente no estádio na derrota para o Flamengo?
– Ao chegar, fui orientado a reduzir os custos da folha. Organizamos uma viagem minha para um evento, que seria uma oportunidade importante para negociar vendas de jogadores. No fim de semana, enfrentaríamos o Cruzeiro, porém o campeonato foi paralisado devido às enchentes no Rio Grande do Sul, alterando os planos e a viagem coincidiria com o clássico contra o Flamengo. Ponderei em cancelar a viagem, mas era crucial reequilibrar a folha e a viagem proporcionaria vendas de jogadores. Não estive no jogo, acompanhei do voo, o que foi mais angustiante para mim. O ambiente no CT foi bastante afetado após essa derrota.
Pedrinho tomou a decisão correta?
– O futuro nos dirá, é muito complexo julgar se foi certo ou errado. Até hoje não compreendemos completamente o papel da 777 em termos de gestão financeira e se ela teria condições de cumprir o contrato integralmente. Pedrinho mencionou que não queria, mas era necessário. Em minha opinião, será preciso que o Vasco tenha um novo proprietário.
Rafael Paiva
– Deixo para quem está lá decidir se será efetivado ou não. Já conhecia Rafael, já havia tentado contratá-lo no Cruzeiro. É um profissional com trajetória relevante no Palmeiras, com trabalho de destaque. Possui amplo conhecimento e está muito bem preparado. Esse primeiro ciclo antes de Álvaro Pacheco foi essencial para ele absorver, avaliar acertos e erros. Ele já está desenvolvendo um trabalho levando em consideração esse aprendizado inicial. Tem um potencial enorme, porém passará por turbulências, afinal estamos falando de futebol. A instituição deve estar pronta para apoiá-lo. É um profissional que, se o futebol brasileiro lhe der espaço, estará no topo. Uma pessoa muito íntegra e dedicada, torço por ele. O Vasco conta com muitos profissionais competentes.
Fonte: ge