A equipe de Ramón Díaz, Vasco, está claramente em um processo de evolução. Uma parte significativa desse desenvolvimento está relacionada à implementação da formação com cinco jogadores na defesa, sendo três zagueiros e dois laterais. Entretanto, como é comum no futebol, essa mudança também expõe certas vulnerabilidades.
O novo esquema tático teve um impacto positivo no aspecto ofensivo do Vasco. Contar com zagueiros como João Victor e Léo, que garantem bons passes iniciais na saída de bola, juntamente com Paulo Henrique e Piton liberados para apoiar, tem sido um ponto alto do time. Além disso, o sistema proporcionou mais liberdade de movimentação para Payet.
O jogador francês, beneficiado pela nova estratégia de jogo e por seu próprio desenvolvimento físico recente, tem desempenhado um papel crucial em partidas sucessivas. Galdames se adaptou bem ao meio-campo até o momento, enquanto Adson contribui com vitalidade e habilidade técnica para enriquecer o ataque. Com essas armas, o Vasco não depende mais exclusivamente das jogadas pelo lado esquerdo, tornando-se um time mais versátil no ataque.
Quando está sem a posse da bola, não é exato dizer que a equipe fica exposta ou desorganizada. No entanto, há um desafio a ser enfrentado: a sobrecarga sobre os volantes. Isso resulta em dificuldades para proteger o setor defensivo próximo à área e permite um grande número de finalizações dos adversários nessa região. No Campeonato Carioca, o Vasco sofreu mais chutes a gol do que os outros grandes clubes, além de Nova Iguaçu, Volta Redonda e Portuguesa. Mesmo quando se posiciona para se defender, não exerce tanta pressão sobre a bola, sendo a quinta equipe do Campeonato Carioca que mais permite passes entre as ações defensivas realizadas.
Apesar dos desafios de proteger a área defensiva, a equipe conseguiu limitar as chances de gol de alta probabilidade aos adversários. Apenas quatro times concederam menos oportunidades de gol com base no Xg – gols esperados, indicador da qualidade das chances criadas – do que o Vasco. Isso sugere que, apesar das dificuldades defensivas, penetrar nessa região não tem sido uma tarefa simples para os oponentes.
Quando o adversário força o Vasco a recuar sua linha defensiva de cinco jogadores para perto da área, o meio-campo corre o risco de ficar desguarnecido, principalmente se Adson e Payet não cumprirem suas responsabilidades defensivas. Mesmo quando esses jogadores retornam para auxiliar a defesa, Payet enfrenta dificuldades em realizar tarefas defensivas. Zé Gabriel e Galdames ficam com uma grande área para cobrir.
Alguns sinais de fragilidade surgiram durante a partida contra o Fluminense, especialmente no segundo tempo. Na ocasião, David foi o terceiro homem do trio ofensivo. Ramón Díaz tentou utilizá-lo para explorar a profundidade contra a linha avançada de zagueiros do Fluminense. Isso resultou na redução de sua participação nas tarefas defensivas.
No primeiro tempo, David e Payet formam uma linha de quatro jogadores junto aos volantes. No entanto, essa formação se desarticula facilmente. Neste momento, Zé Gabriel sai para pressionar Ganso e abre espaço em suas costas para Arias. Mesmo com a tentativa de Medel de se adiantar para compensar, o espaço é explorado.
Arias recebe o passe e tem a oportunidade de finalizar a partir de uma região em que o Vasco geralmente vê seus oponentes tentarem marcar gols.
A configuração se repete no segundo tempo, com David menos envolvido na recomposição defensiva, o que evidencia claramente a questão. Payet retorna pelo lado esquerdo, mas não se une aos volantes na proteção da área, deixando muito espaço na meia direita para o ataque do Fluminense.
Apesar do progresso ofensivo demonstrado na vitória por 4 a 2 sobre o Botafogo, o Vasco mostrou fragilidades defensivas logo aos dois minutos da partida. Os volantes Galdames e Zé Gabriel se viram em desvantagem numérica. O jogador do Botafogo, Tiquinho, recuou da linha ofensiva para participar da construção das jogadas, agravando a situação. Essa jogada resultou em um gol anulado de Victor Sá.
Posteriormente, mesmo com a linha de cinco defensores estabelecida, o Vasco mais uma vez defendeu apenas com sete jogadores, mostrando desconexão entre os três homens da linha de ataque. As vulnerabilidades dos volantes foram expostas, e a ausência de Medel agravou a situação, pois o chileno possui a capacidade de interpretar os momentos em que deve avançar e ajudar Zé Gabriel e Galdames.
Todavia, as mudanças promovidas por Ramón Díaz no intervalo durante o duelo contra a Portuguesa surtiram efeito. Com a entrada de Mateus Carvalho, a equipe passou a adotar um meio-campo com três jogadores e um sistema defensivo com quatro homens. O Vasco não foi tão ameaçado no segundo tempo e conseguiu proteger a área defensiva com mais segurança.
Fonte: Blog do Mansur – Globoesporte